terça-feira, 22 de junho de 2010

O Geral Roca e o genocídio atual dos povos originários

O Geral Roca e o genocídio atual dos povos originários
Por Juan, 6o Nível, Sábado

Li com muita atenção as notas escritas no blog. Gostei muito da escrita por Hilda sobre “O Brasil e a Argentina, Texto 2: A população”. Qualifiquei clicando no quadrinho “Legal”. Porém, Hilda se refere ao Gral Roca como “genocida”. Achei forte essa qualificação e gostaria de pegar esse conceito que ela desenvolveu para dar minha opinião.

Algumas pessoas consideram que a expedição de 1879 contra os índios foi um genocídio e destratam a figura do Geral Roca, seu condutor. Matar qualquer ser humano é um ato inapropriado e abominável. Mas acho que não devemos esquecer o contexto dessa expedição militar na hora de colocar adjetivos.

Antes da chegada dos espanhóis os povos originários estavam agrupados em parcelas mínimas de território e aproveitaram a introdução do cavalo, boiadas e armas para sua expansão territorial. O índio pegou o cavalo e a faca de ferro dos espanhóis, se tornando um flagelo terrível para o branco a quem roubava suas boiadas para serem vendidas ao Chile. Eles nunca foram sedentários. Foram sempre caçadores. A introdução do boi mudou suas vidas pois não era a mesma coisa capturar animais nativos que “caçar” mansas vacas.
Os índios Araucanos entram ao nosso país nos primórdios do século 18 quando nossa Pampa e a Patagônia eram desertos com apenas uns poucos grupos de povoadores espalhados apenas nessa imenso pasto natural. Havia inúmeras cabeças de gado selvagem que eram “caçadas” pelos escassos colonizadores só para extrair o couro. Eles deviam fugir perante o ataque constante dos índios, os famosos “malones” que eram bandos de até 6.000 índios que atacavam, de maneira rápida e inesperada, cidades, povoados e fazendas com fim de obter gado, provisões bem como mulheres novas (as “cativas”).
Por volta de 1869 era preciso consolidar a nascente Argentina, anexando ao novo país La Pampa e a Patagônia. Por conseguinte, Mitre, Sarmiento e Alsina, entre outros, começaram a estabelecer uma política de ocupação que é concluída pelo Presidente Avellaneda, em 1878. Este encarrega ao Geral Roca, nesse ano, a “Conquista do Deserto”, ação militar votada democraticamente pelo Congresso e apoiada pela sociedade da época, para consolidarem o território argentino e porem freio aos constantes ataques do índios, conduzidos por o Cacique Calfucará, numa extensa região cuja fronteira ficava perto da cidade de Buenos Aires. Era preciso, também, eles pacificarem e organizarem a região, já que os imigrantes europeus estavam chegando a nossas costas (Meus bisavôs chegaram em 1880, dois anos depois da Expedição ao Deserto).

A Expedição foi financiada pela venda antecipada de parcelas de 10.000 hectares cada. Houve vencedores e vencidos. Os índios ficaram em grandes reservas que mãos inescrupulosas depois, e até agora, as têm usurpado de há pouco.
Na mina opinião não foi um genocídio. Foi o confronto de dois exércitos. O bravo cacique Calfucurá não era o líder de um grupo de “Carmelitas Descalças”. Cidades completas foram destruídas por eles enquanto nosso território era ameaçado pela ocupação de países vizinhos.
Seria melhor que isso não tivesse acontecido. Odeio as guerras. Infelizmente, existiu. Acho que só devemos voltar para o assunto para lembrar das coisas que não temos de repetir mas não para nos enfrentarmos. Hoje, temos que colocar todas as nossas energias na mortalidade dos índios , aqui e neste momento, onde os nossos irmãos guaranis, wichis e mocovíes, estão desaparecendo e ninguém está fazendo nada por eles, com exceção de umas poucas pessoas e organizações privadas. Não acho que sejamos “genocidas” hoje, mas como nos nomeamos aqueles que deixamos morrer nossos irmãos argentinos que estão precisando de atenção médica, educação e nutrição? Pode-se matar tanto com um fuzil quanto com o esquecimento. O verbo é o mesmo, o que muda é o instrumento.
As instituições governamentais encarregadas de corrigir a situação nada fazem. Segundo eles: “Não tem fundos”. A Argentina tem dinheiro para enviar jatos só para levar jornais e bolos para as casas do fim de semana localizadas na região patagônica, mas não tem nem sequer um peso para que o nível de vida dos indígenas atinja o nível igualável ao do resto do habitantes. Os governantes lembram que eles existem na época de eleições. Depois olham para outro lado enquanto passeiam em carros e aviões luxuosos, estourando dinheiro público e se enriquecendo de um dia para o outro, esquecendo o povo que os elegeu.
Minha mensagem final, sobre a qual gostaria conhecer a opinião dos meus colegas, é que embora seja bom aprender do passado, nós argentinos devemos deixar de mexer no nosso passado buscando rancores e nos concentrarmos naqueles pontos que nos unam. Vejo constantemente como a nossa presidente, por exemplo, fala sobre a ausência dos direitos humanos acontecida trinta anos atrás enquanto não está vendo essa mesma falta no cotidiano (insegurança, desaparecimento dos povos originários, falta de medicina hospitalar, salários dos aposentados, etc.)

Por isso: Chega de briga! Que A gente se una para o futuro e não deixemos que nos separem! A gente já o demonstrou na festa do Bicentenário: O povo deu exemplo de união e fraternidade. Os políticos deram exemplo de briga e incomunicabilidade.

Grande abraço para todos, especialmente para Hilda, por suas contribuições e dedicação!

2 comentários:

  1. Com minha história estou de pé em meu presente e tento ter o intelecto aberto para poder olhar o futuro em comunidade com meus irmãos latino-americanos.
    Concordo com João em que só devemos voltar para o assunto para lembrar das coisas e não repetir mais, não para nos enfrentarmos. Faço minhas as palavras de Eduardo Galeano: A caridade é humilhante porque se exerce verticalmente e desde acima; a solidariedade é horizontal e implica respeito mutuo.
    Sejamos solidários com os povos que têm sofrido exclusão e impiedade.

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  2. Concordo. Os crimes de lesa humanidade não têm prescrição sejam crimes políticos, sociais ou econômicos...

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